A Violência doméstica entre a comunidade brasileira no Japão

Brasileiros de descendência japonesa obtêm vistos que lhes permitem residir e trabalhar no Japão legalmente, e seus cônjuges recebem visto vinculado. Dadas as particularidades do país quanto às exigências migratórias e de permissão de residência, tem-se observado que muitas brasileiras sem descendência japonesa se encontram, com frequência, em posição vulnerável. Muitas se submetem a abusos por parte de seus pares e não denunciam nem terminam a relação, devido à necessidade de manter o vínculo com o agressor para garantir a obtenção ou renovação periódica de permanência.

O abalo psicológico e emocional normalmente torna a denúncia um ato difícil para a vítima, seja qual for o país ou contexto em que se encontre. Entre mulheres brasileiras residentes no Japão, a superação desse obstáculo é ainda mais entravada em razão de diversos fatores: a inexistência de delegacia da mulher (muito embora haja linha telefônica específica para denúncias de agressão); a barreira do idioma; a dependência do visto (principalmente em casos de mulheres que têm filhos, não têm conhecimento do sistema legal japonês e têm seu visto vinculado ao do marido); o receio de perder a guarda de filhos ou enfrentar uma arrastada batalha jurídica; o receio de não ter o visto renovado e ser deportada sem os filhos.

Existem também os casos de mulheres com descendência japonesa que, a despeito de gozarem de independência migratória e financeira (por vezes até sustentando o companheiro), não conseguem romper o vínculo com o agressor, devido a uma história pessoal de “desamparo-aprendido”, cujo enfrentamento demanda intenso processo terapêutico